Cresce cada vez mais o debate sobre saúde mental infantil e sua relação direta com o ambiente escolar. Afinal, crianças e adolescentes passam boa parte do dia na escola — convivendo com colegas, absorvendo conteúdos e lidando com desafios emocionais que nem sempre conseguem expressar. Em um cenário pós-pandemia, onde os transtornos mentais entre jovens aumentaram significativamente, o papel da família nesse acompanhamento se tornou ainda mais essencial.
Mas como os pais podem, na prática, contribuir com a promoção da saúde mental dos filhos na escola? Que sinais devem observar? E qual a melhor forma de dialogar com a instituição de ensino?
Por que falar sobre saúde mental nas escolas?
O ambiente escolar é um espaço de socialização, aprendizado e crescimento emocional. Mas também pode ser um local de ansiedade, exclusão ou bullying. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), metade dos transtornos mentais começa antes dos 14 anos, e muitos deles não são identificados nem tratados.
Por isso, cada vez mais escolas vêm adotando práticas de acolhimento psicológico, projetos de escuta ativa e iniciativas que estimulam a empatia e o autocuidado entre alunos. A presença de profissionais preparados e o envolvimento das famílias são pilares nesse processo.
O papel da família no cuidado com a saúde mental
O acompanhamento familiar é um fator de proteção importante para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. Quando a criança se sente ouvida, compreendida e apoiada em casa, ela tem mais recursos para lidar com os desafios emocionais da vida escolar.
Entre as atitudes que os pais podem adotar, estão:
- Manter uma rotina de diálogo diário sobre como foi o dia na escola;
- Observar mudanças de comportamento, como irritabilidade, apatia ou recusa em ir para a aula;
- Estimular a expressão de sentimentos por meio de conversas abertas e sem julgamentos;
- Procurar conhecer os amigos e professores com quem o filho convive;
- Participar ativamente da vida escolar, comparecendo a reuniões e eventos.
Esse vínculo emocional proporciona segurança para que os filhos sintam liberdade de compartilhar suas angústias.
Quais sinais podem indicar que algo não vai bem?
Nem sempre uma criança ou adolescente com sofrimento emocional vai conseguir verbalizar o que está sentindo. Por isso, é fundamental que pais e cuidadores fiquem atentos a mudanças no comportamento habitual. Alguns sinais de alerta incluem:
- Queda no rendimento escolar repentina;
- Isolamento social ou afastamento de amigos;
- Queixas frequentes de dores de cabeça ou barriga (sem causa clínica aparente);
- Alterações no sono ou no apetite;
- Explosões de raiva, crises de choro ou medos exagerados;
- Recusa persistente em ir à escola.
Esses comportamentos podem sinalizar estresse, ansiedade, depressão, bullying ou outros tipos de sofrimento emocional. Ao perceber esses sinais, o ideal é buscar ajuda profissional e conversar com a escola sobre possíveis situações que estejam afetando a criança.
Como fortalecer o vínculo entre escola e família?
Um dos maiores desafios atuais é criar uma rede de apoio entre pais, educadores e profissionais da saúde. A escola precisa ser vista como parceira das famílias no cuidado integral das crianças. Para isso, é importante:
- Estabelecer um canal de comunicação constante com professores e coordenação pedagógica;
- Participar de reuniões escolares com escuta ativa, buscando soluções conjuntas;
- Respeitar o papel da escola como espaço de formação emocional e não apenas acadêmica;
- Compartilhar com a instituição informações relevantes sobre o histórico emocional da criança, quando necessário.
A troca de informações entre família e escola ajuda a construir um olhar mais completo sobre a criança e permite intervenções precoces em situações de risco.
A importância do apoio profissional dentro das escolas
Cada vez mais escolas estão investindo em programas de apoio psicológico, rodas de conversa, oficinas socioemocionais e até mesmo a presença de psicólogos escolares. Essas iniciativas são fundamentais para:
- Reduzir o estigma sobre saúde mental;
- Estimular o autoconhecimento e a empatia entre os alunos;
- Promover ambientes de escuta segura;
- Identificar precocemente possíveis transtornos emocionais.
No entanto, o trabalho dos profissionais da educação e da saúde mental só ganha efetividade quando há envolvimento da família. A colaboração mútua é essencial para garantir o bem-estar emocional do aluno.
Tecnologia, redes sociais e saúde mental infantil
Outro ponto de atenção para pais e escolas está no uso excessivo de telas e redes sociais. Estudos mostram que o tempo exagerado online pode prejudicar o sono, aumentar quadros de ansiedade e gerar comparação social constante — principalmente entre adolescentes.
Cabe aos pais estabelecerem limites saudáveis de uso de dispositivos, acompanharem os conteúdos acessados e manterem um diálogo aberto sobre o impacto da internet na autoestima e nas relações.
A escola, por sua vez, pode promover atividades offline, incentivar a convivência presencial e incluir o tema nas discussões em sala de aula.
O que fazer quando a criança precisa de ajuda profissional?
Se os sinais de sofrimento persistirem, é fundamental buscar o suporte de um psicólogo infantil. O profissional pode ajudar a identificar as causas dos sintomas, oferecer estratégias de enfrentamento e orientar a família.
Em alguns casos, o acompanhamento escolar e o atendimento psicológico caminham juntos, com reuniões entre pais, escola e terapeutas, garantindo um suporte mais eficaz à criança.
Além disso, redes públicas de saúde e escolas municipais ou estaduais muitas vezes oferecem atendimento psicológico gratuito ou encaminhamentos para serviços especializados.
Saúde emocional também se aprende
Assim como ensinamos as crianças a escovar os dentes ou a comer bem, também precisamos ensiná-las a cuidar da mente. A escola tem um papel importante nesse processo, mas é em casa que o alicerce da saúde emocional se fortalece.
Pais atentos, escuta ativa, diálogo frequente e parceria com a escola são atitudes simples, mas poderosas, para garantir que o ambiente escolar seja, de fato, um espaço de crescimento integral.
Promover a saúde mental nas escolas é um compromisso coletivo. E ele começa com pequenos gestos no dia a dia.