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    Saúde mental nas empresas: como o aumento de casos de burnout colocou o tema em evidência

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    Nos últimos anos, a saúde mental deixou de ser um tabu no ambiente corporativo e passou a ocupar lugar de destaque nas pautas de gestão de pessoas. O motivo? Um crescimento alarmante nos casos de burnout, síndrome caracterizada pelo esgotamento físico e emocional relacionado ao trabalho.

    Dados recentes divulgados por essa matéria do jornal Estadão apontam que a preocupação com o bem-estar mental dos colaboradores deixou de ser apenas uma demanda social e passou a ter implicações diretas na produtividade, no engajamento e, principalmente, nos custos das empresas. A nova realidade pressiona líderes e departamentos de RH a reverem suas estratégias.

    O que é burnout e por que ele se tornou tão comum?

    O burnout é resultado de um estresse crônico e mal administrado no contexto profissional. Entre os sintomas mais comuns estão: sensação de exaustão constante, distanciamento mental do trabalho, sentimentos de negativismo e ineficácia. Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu oficialmente o burnout como uma síndrome ocupacional, reforçando a seriedade do quadro.

    A pandemia de Covid-19 funcionou como um catalisador para o agravamento do problema. O home office desestruturado, a sobrecarga de tarefas e a dificuldade de separar vida pessoal e profissional geraram um ambiente fértil para o aumento dos casos. Hoje, mesmo com a volta parcial à normalidade, os reflexos desse período ainda são visíveis.

    Estudo revela números preocupantes no Brasil

    De acordo com o levantamento apresentado na matéria do Estadão, mais da metade dos trabalhadores brasileiros afirma já ter sofrido com algum sintoma de esgotamento relacionado ao trabalho. Esse dado coloca o Brasil entre os países com maior incidência da síndrome.

    O estudo reforça que o problema não atinge apenas setores específicos: profissionais da saúde, educação, tecnologia, serviços e até cargos de liderança estão expostos ao risco. A sobrecarga emocional, aliada à pressão por resultados e à falta de apoio institucional, é um cenário comum nas empresas de diferentes portes.

    A nova regulamentação que pressiona as empresas

    O avanço do debate levou o governo federal a atualizar as normas que tratam da saúde mental no ambiente de trabalho. O novo texto da Norma Regulamentadora nº 17 (NR-17), que trata da ergonomia, passou a considerar aspectos psicossociais no ambiente laboral.

    Isso significa que as empresas agora precisam avaliar, de forma obrigatória, fatores como pressão por metas, sobrecarga de trabalho, jornadas excessivas e assédio moral. A não observância dessas diretrizes pode resultar em autuações e responsabilizações legais.

    Além da questão legal, a mudança mostra que o cuidado com a saúde mental deixou de ser uma escolha e passou a ser um compromisso empresarial.

    Custo do burnout para as empresas vai além do absenteísmo

    Ignorar os sinais de burnout pode custar caro para as empresas. O absenteísmo (faltas recorrentes), o presenteísmo (quando o colaborador está fisicamente presente, mas improdutivo) e o aumento do turnover são reflexos diretos da negligência com a saúde mental.

    Segundo dados da International Stress Management Association (ISMA-BR), estima-se que 30% dos afastamentos no Brasil estão relacionados ao estresse no trabalho. Esse índice impacta não apenas os custos com afastamentos e planos de saúde, mas também a reputação da empresa e a moral das equipes.

    Como as empresas estão (ou deveriam estar) reagindo

    Felizmente, o cenário também tem estimulado mudanças positivas. Cada vez mais empresas estão investindo em programas de bem-estar, apoio psicológico e promoção de um ambiente de trabalho mais saudável. Entre as medidas mais eficazes, destacam-se:

    • Implementação de programas de saúde mental corporativa com psicólogos ou plataformas de apoio emocional;
    • Flexibilização de jornadas e estímulo ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional;
    • Criação de canais seguros de escuta ativa, onde os colaboradores possam relatar pressões e dificuldades sem medo de retaliação;
    • Treinamento de líderes para identificar sinais de esgotamento nas equipes e promover uma gestão mais empática;
    • Ações de cultura organizacional voltadas ao respeito, inclusão e valorização do bem-estar.

    Empresas que adotam essas práticas não só melhoram a qualidade de vida dos seus colaboradores, como também observam ganhos em produtividade, clima organizacional e atração de talentos.

    O papel da liderança no combate ao burnout

    Líderes têm um papel essencial na prevenção e no combate ao burnout. Mais do que cobrar resultados, cabe a eles criar um ambiente onde os profissionais se sintam valorizados, ouvidos e respeitados.

    A cultura de “alta performance a qualquer custo” precisa ser substituída por uma visão mais humana do trabalho. Incentivar pausas, promover feedbacks construtivos, respeitar os horários de descanso e priorizar a qualidade do trabalho sobre a quantidade são atitudes que fazem diferença no dia a dia.

    Além disso, líderes devem ser exemplo: se mostram que cuidam da própria saúde mental, sinalizam que esse cuidado também é legítimo para suas equipes.

    Saúde mental é estratégia, não custo

    A discussão sobre saúde mental no ambiente corporativo deixou de ser uma ação isolada do RH e passou a ser um fator estratégico de negócios. Empresas que investem nesse tema estão mais preparadas para enfrentar os desafios de um mercado cada vez mais competitivo e exigente.

    Com a nova regulamentação, os empregadores terão que sair do discurso e partir para ações concretas. É hora de transformar boas intenções em políticas efetivas que cuidem, de fato, de quem faz o negócio acontecer: as pessoas.

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